sexta-feira, 27 de março de 2015

VIRANDO A PÁGINA


Caiu no meu colo a revista "Vida Simples" de abril. Já estamos em abril? Pensei meio desfusorada. 
A matéria de capa apresenta-se com uma esplêndida interjeição: "Saiba virar a página", a interjeição foi ideativa.  Comprei, nem li, mas já comecei a matutar enquanto andava pelas ruas a caminho do espaço de atendimento para cuidar de uma cliente.
Virar a página é tarefa complexa, embora pareça simples. As páginas da nossa vida, afinal, se viram mesmo à revelia de nossos desejos.
Há uma sucessão de eventos, criados por nós ou por aqueles que transitam na jornada evolutiva conosco que independem de nós. Colocando assim em questão os nossos surtos controladores. 
As coisas simplesmente acontecem e muitas vezes a resistência em aceitar ou o medo nos aprisionam na folha anterior. Mesmo quando não está tão bom ainda queremos ficar na zona de conforto. Reclamando, nos infelicitando, mas ali. Confortavelmente instalados em uma frágil e delicada segurança que inventamos.
Muitas vezes, mais por acomodação do que por vontade, ficamos presos nas folhas amarelecidas dos acontecimentos,  amargando o que passou sem vislumbrar o hoje, o agora pleno de oportunidades. Nossos velhos hábitos nos prendem ao passado e o AGORA é perdido. Vivemos no sofrimento do que passou que nos traz angústia ou na ânsia do futuro que nos traz ansiedade. É entre angústia e ansiedade que perdemos a abundância do presente. 
Estar no presente não é matéria escolar e o livro "O poder do agora" de Eckhart Tolle nos explica isso de um jeito profundo e muito vanguardista, sugiro a leitura. 
A história nos explica o passado junto com a geografia que define as contingências espaço-temporais; a cultura acadêmica e social nos cobra sucesso profissional e financeiro, até as disciplinas como Artes e Educação Física se prendem ao resultado, roubando do aprendiz o prazer de criar e experimentar de forma autêntica. 
A vida nos leva o tempo todo para o passado e para o futuro. O Ágora nós aprendemos a valorizar quando? Pois é... não aprendermos.  Usamos o hoje como trampolim para um futuro idealizado ou para recordar passados próximos ou distantes. 
Nossa reflexão hoje é assegurar que o presente seja bem vivido. VIVIDO intensamente, que as amarras que nos prendem sejam desatadas e que busquemos com verdade e coragem seguir o nosso coração. 
Fazendo, muitas vezes, escolhas especiais, sem pensar que é o melhor financeiramente ou que vai nos trazer sucesso e projeção ou mesmo que vai fazer com que as pessoas nos admirem, respeitem e gostem de nós. Gasparetto, figura ímpar, nos acusa de sermos emocionalmente miseráveis, a primeira vez que ouvi nem gostei, depois entendi, ri e concordei.
Hoje eu quero verdadeiramente ser feliz, feliz a meu modo, mesmo que isso cause incômodo para alguém. 
Anseio pela possibilidade de não me prender ao que os outros esperam de mim. Quero me fazer feliz! Virar a página do que é o certo e viver o que é o bom. Afinal ninguém vai te amar mais por você estar enquadrado e você certamente vai se amar menos. 
Quando vamos fundo no processo de autoconhecimento, e eu tenho me proposto a fazer isso comigo mesmo e com os meus clientes, percebemos que aprendemos muito mais a nos aprisionar do que nos libertar. Ainda, por hábito, seguimos o fluxo e cumprimos as determinações do que esperam de nós, porém com um comichão de insatisfação que vai, pouco a pouco colocar fim a nossa escravidão.
Mas a liberdade tem preço. Aqueles que se aventuram sabem que tem preço, mas pagam com alegria. Que virar a página seja do que for, relacionamentos amorosos ou de amizades que já perderam o prazo de validade, escolhas profissionais, saudosismo do que passou etc e tal,  esteja norteado pela bela oração da serenidade:
"Concedei-nos Senhor a Serenidade para aceitar as coisas que não posso modificar, Coragem para modificar aquelas que posso e Sabedoria para perceber a diferença". 
Por conta disso já tatuei há muito tempo a palavra Sabedoria no meu corpo e na minha alma, com esperança que saiba usá-la sempre que se fizer necessário. Bom confessar que escorrego com frequência, assumindo a fragilidade que habita em mim. Mas persigo a proposta. Não deixo a vida me levar, faço escolhas, proponho mudanças, danço a minha dança mesmo que seja descompassada. 

Vou virando as páginas e recebendo uma página novinha onde escrevo diariamente a minha história. Muitas lágrimas banham as folhas e dão um tom interessante quando são verdadeiras e sinceras. Lágrimas são libertadoras, descobri recentemente, antes, para mim era sinal de fraqueza. Bom aprendizado, ponto para mim!

Chuva de bênçãos a todos os viradores de páginas e bênçãos também para aqueles que estão ainda agarrados às folhas antigas, afinal parafraseando minha Lispector digo que não sabemos exatamente e claramente onde está a viga que nos sustenta. Goste de você...mesmo que você seja alguém ainda preso ao passado e ao futuro, porque gostar de si é o primeiro e único passo para ser feliz.