Hoje acordei madrugadamente com essa música do
Renato Russo na mente. Não há mesmo o amanhã desejado e sim aquele que virá por
si só. Mil pensamentos povoavam meu cérebro de macaco de galho em galho, como
dizem os orientais. Pensei em muros e pontes, levantei e vim escrever.
Muitos textos aparecem todos os dias através
dos meios virtuais, esta semana dois deles me chamaram muita atenção, o primeiro
foi um atribuído a Adélia Prado que é uma preciosidade, o outro de um religioso
da igreja anglicana, este já tinha lido antes, mas que agora senti diferente.
Este texto se intitula: “Construa Pontes e não
Muros ao seu Redor”, está na íntegra no final da minha conversa, seguido do
texto da Adélia prado.
Pois bem, construir muros e pontes sobre o ponto de vista físico vão
quererer material básico semelhante: trabalho e projeto. Imagino que na construção civil a logística para
fazer pontes seja de uma complexidade maior, por isso na metáfora seja mais fácil
construir muros.
Como construir muros sabemos bem, tijolo por tijolo de críticas e
recriminações, olhares de menosprezo sutis ou declarados, farpas verbais, excesso
de egocentrismo, medos e culpas, prisão no passado, grandes e inatingíveis projetos
de futuro, ausência de perdão e auto perdão, agressão e indiferença, desejo que
o outro seja do jeito que queremos e não do jeito que pode ser. Estes são bons
componentes na construção de muros. Tijolo por tijolo, dia após dia e temos um
grande e forte muro, por vezes quase intransponível.
O texto atribuído a Adélia Prado ensina a fazer pontes. Ponte liga um coração
ao outro, como construir? Entendo que o cimento tem que ser boa vontade e
aceitação. Aceitação do outro e aceitação de si mesmo nas suas limitações.
Perceber os pequenos detalhes, deter-se em ser gentil diariamente, fazer
uma xícara de chá, tirar o cabelo do rosto, comprar algo que você não gosta,
mas que o outro ama, um elogio delicado, rir junto até sair lágrima do olho, um
olhar de aprovação, uma massagem no pé, um presentinho baratinho fora de hora,
valorizar o que é importante para o outro, escrever delicadezas, ligação só
para saber como está, ouvir o outro mesmo quando o soninho tá batendo, etc e
tal.
Há tantas formas de amar e queremos efeitos pirotécnicos e grandiosos, se
não acontecem, pronto: tijolinho para o muro. Ficar detido em detalhes,
esperando o que não vem, também é tijolinho. Esperar do outro o que não pode
dar e cobrar por isso, também é tijolinho. Esperar mudanças rápidas também é
tijolinho. E vamos nós juntando tijolinhos para nosso muro subjetivo que pode
se transformar em objetivamente afastar as pessoas de nós.
Que possamos usar de sensibilidade para a construção de pontes, valorizar
os muros de proteção, necessários, sem que sejam elementos que nos afastem do
ato amoroso de viver com o coração aberto sem resistências nem amarras.
Meus pais vieram de lugares diferentes e se encontraram aqui como muitos
casais. O ator Alexandre Lino uma vez pediu no facebook que se escrevessem histórias
de nordestinos e eu escrevi a minha, da ponte que uniu meus pais e que me
possibilitou a vida aqui neste lindo mundo. Este acabei de postar “Nosso
estranho Jeito Brasileiro” http://teresaquintas.blogspot.com.br/2016/03/nosso-estranho-jeito-brasileiro.html”,
escrevi a tempos e fui deixando e esquecendo. Hoje estou declarativa e vou fazer
dois posts. Escrevo por amor a expressão livre sem medo de errar nem de “mandar
mal”. Escrevo, parafraseando Cecilia Meireles, porque o instante existe, e a
vida é plena de alegrias e motivos para sorrir.
Chuva de bênçãos para todos nós, que estas gotas nos contaminem e
possamos a cada dia construir mais e mais pontes que nos liguem a todos os corações
do mundo.
CONSTRUA PONTES
E NÃO MUROS AO SEU REDOR
Pedro e João eram amigos de infância.
Certo dia se desentenderam por um motivo banal e desde então foram alimentando
ressentimentos mútuos. Por fim nem se falavam mais. Moravam em sítios vizinhos,
tendo apenas um riacho como limite entre suas propriedades.
Um dia apareceu pela redondeza um
pedreiro à procura de trabalho. Bateu à porta do sítio de Pedro e ofereceu-se
para prestar-lhe serviço. Pedro pediu-lhe que construísse um muro para servir
de limite entre as suas terras e as de seu vizinho. Depois de relatar ao
pedreiro sua desavença com João, recomendou também que construísse um muro bem
alto.
O pedreiro iniciou o seu serviço,
enquanto Pedro saiu para resolver outras coisas. Ao entardecer, quando voltava
para casa, Pedro teve uma surpresa. O homem havia construído uma ponte entre
duas propriedades e não um muro como ele havia pedido.
Irritado com a situação, já estava para recriminar o pedreiro por ter-lhe desobedecido, quando avistou o amigo na ponte vindo em sua direção e dizendo:
Irritado com a situação, já estava para recriminar o pedreiro por ter-lhe desobedecido, quando avistou o amigo na ponte vindo em sua direção e dizendo:
- Pedro! Agora vejo como você é um
amigo de verdade, mandou construir uma ponte entre nossas propriedades apesar do
desentendimento que tivemos! Ouvindo isso, Pedro também caminhou em sua
direção, dando-lhe um forte abraço.
O pedreiro, presenciando a cena, se despediu. Pedro e João o convidaram para ficar, ao que ele respondeu: - Obrigado, mas eu não posso, tenho outras pontes para construir.
O pedreiro, presenciando a cena, se despediu. Pedro e João o convidaram para ficar, ao que ele respondeu: - Obrigado, mas eu não posso, tenho outras pontes para construir.
O mesmo material com que se constrói
um muro, pode ser usado para construir uma ponte. Tudo é uma questão de
escolha. Assim também acontece em sua vida: uma mesma situação pode ser
utilizada para unir ou separar as pessoas. (Rev. Aldo Quintão - Catedral
Anglicana de São Paulo)
QUANTO JEITO QUE TEM DE TER AMOR
Uma personagem
põe-se a lembrar da mãe, que era danada de braba, mas esmerava-se na hora de
fazer dois molhos de cachinhos no cabelo da filha, para que ela fosse bonita
pra escola.
Meu Deus, quanto
jeito que tem de ter amor.
É comovente porque é
algo que a gente esquece: milhões de pequenos gestos são maneiras de amar.
Beijos e abraços são provas mais eloquentes, exigem retribuição física, são
facilidades do corpo. Porém, há outras demonstrações mais sutis: Mexer no
cabelo, pentear os cabelos, tal como aquela mãe e aquela filha, tal como
namorados fazem, tal como tanta gente faz: cafunés. Amigas colorindo o cabelo
da outra, cortando franjas, puxando rabos de cavalo, rindo soltas.
Quanto jeito que há
de amar.
Flores colhidas na
calçada, flores compradas, flores feitas de papel, desenhadas, entregues em
datas nada especiais: "lembrei de você".
É este o único e
melhor motivo para azaléas, margaridas, violetinhas.
Quanto jeito que há
de amar.
Um telefonema pra
saber da saúde, uma oferta de carona, um elogio, um livro emprestado, uma carta
respondida, uma mensagem pelo celular, repartir o que se tem, cuidados para não
magoar, dizer a verdade quando ela é salutar, e mentir, sim, com carinho, se
for para evitar feridas e dores desnecessárias.
Quanto jeito que há
de amar.
Uma foto mantida ao
alcance dos olhos, uma lembrança bem guardada, fazer o prato predileto de
alguém e botar uma mesa bonita, levar o cachorro pra passear, chamar pra ver a
lua, dar banho em quem não consegue fazê-lo só, ouvir os velhos, ouvir as
crianças, ouvir os amigos, ouvir os parentes, ouvir...
Quanto jeito que há
de amar.
Rezar por alguém,
vestir roupa nova pra homenagear, trocar curativos, tirar pra dançar, não
espalhar segredos, puxar o cobertor caído, cobrir, visitar doentes, velar,
sugerir cidades, filmes, cds, brinquedos, brincar...
Quanto jeito que há. (Adélia Prado)