segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Crônicas do chá - Chá Verde

 

Caminhava lentamente pela Calle Corrientes, para ela, a mais interessante avenida portenha, ia em direção à Calle Florida.  Estava frio e caminhar era bom. Buenos Aires sempre a encantou. Esses lugares eram para se admirar, de tudo um pouco havia ali, um mosaico de prazeres para os sentidos e para além dos sentidos.
Tirou o celular da bolsa para conferir o endereço, estava perto, seu coração acelerou. Parou olhando uma vitrine sem nada ver. Sabia que chegaria primeiro, andou mais devagar. Mirou-se pelo vidro da vitrine, sua figura apareceu esfumaçada pelo vidro antigo, com o chapéu vermelho e a echarpe colorida, estava bem, muito bem.
Chegou em frente ao local combinado. Local bem aprazível, entrou pensando que era mesmo um bom lugar para um encontro ou reencontro.
Estava quase vazio, era uma boa hora também. Olhou e escolheu um lugar com vistas para a porta, gostaria de ver a sua entrada triunfal, riu-se da imagem dessa entrada triunfal, era mais para uma tímida entrada. A imagem foi interrompida pelo gentil garçom.
Sabia que podia antecipar o pedido, sempre pediam chá. Chás diferentes, claro, provavam ambos os chás fazendo bobas apreciações, mas havia um bom tempo que não se viam. Sacudiu a cabeça para espantar a dúvida. Não havia dúvida.
O garçom retorna, diz um sim confiante, vai pedir. - Chá verde por favor, um Jasmim Tea o outro puro, pode ser um Darjeeling Green. Havia uma razão de ser para essa escolha. O perfumado Jasmim Tea foi o primeiro chá que partilharam, já o Darjeeling Green teria o sabor desconhecido dessa nova fase de suas vidas e com ares de celebração já que os jardins de chá desse local na Índia tem fama de ser o champanhe dos chás. Bem propício para  tal momento de suas vidas.
Os acompanhamentos serão por sua conta, pensou. Sempre foi pontual e sempre escolheu bem o que comer.
Arrumou a echarpe, tirou o chapéu vermelho pousando em uma cadeira, passou as mãos pelos cabelos de forma tranquila. Sabia que  chegaria logo. Pensou e aconteceu.
Entra pela porta com um sorriso, que sorriso, os cabelos estão mais grisalhos, observou. É um momento pleno de encantamento.
Os chás chegam junto, duas entradas esplêndidas, com seus aromas mágicos e inebriantes. As mãos se tocam, nada precisa ser dito, os chás tem gosto de saudade, esperança e alegria. Olhos nos olhos e sorrisos. Agora, está tudo na mais perfeita ordem. 

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

CHÁ COM POESIA - Chá Branco


O frio chega enrigelando minha pele.
Pele fria, trazendo baixa temperatura 
ao meu espaço limiar
de pele, músculos, ossos, nervos...

Gelando meu espaço dual 
de desejos e sonhos... 
e cansaço...

Sinto frio, gélida, busco algo,
encontro na efervescência 
de uma xícara de chá 
que aquece o frio que me captura...

Aquece a pele fria com suaves sabores...
Aquece esse espaço também limiar
de corpo, desejos e sonhos...
E aquece o cansaço com um multisabor 
delicadamente inebriante.

É chá branco como as brumas.
Oferecendo conforto,
calor e paz, 
uma grande paz...

domingo, 22 de agosto de 2021

Crônicas do Chá - Chá Branco

 

Chovia leve em Niterói, ela olhava melancólica pela janela. Havia um canteiro em frente à janela e um sofá colorido escorava seu corpo. Ela estava se sentindo sombria, estava frio e ela sentia ausência de algo, nem sabia bem o que era.
No canteiro a hortelã pimenta era vista pelo espaço entre a espinhenta ora-pro-nóbis e o perfumado limoeiro. Sobre essas plantas ela via as gotículas que se formavam, envergando as folhas e caindo no solo. Ela observava tudo. Por dentro ela também chovia.
Não havia Lágrimas, era só um já conhecido desalento. Existem dias chuvosos por dentro de nós, ela pensava sorrindo, ela chovia-se. Riu da construção da estranha frase "ela chovia-se". Um vento trouxe um aroma de terra molhada com ervas misturadas. Opa, um suave sorriso apareceu. Havia um chá, aquele chá novo para experimentar, "agulha prateada" era seu nome, lindos brotos cobertos por um singelo véu branco. Era uma esperança quente e acolhedora que trazia o sol dissipando a chuva dentro dela. Era um Chá tão delicado.
Passou a língua nos lábios, abriu o pacote e sentiu o frescor floral dessa mágica erva que transformava o triste em alegre. Pegou uma linda xícara e o preparo do chá foi com movimentos lentos, água aquecendo na temperatura ideal, tempo marcado no timer, precisava ser a xícara de chá perfeita, Chá Branco perfeito.
Estava pronto, caminha para a mesma janela com sua xícara de chá, se escora no mesmo sofá, mas ela já era outra. O que faz uma xícara de chá, pensa ela. Agora, apesar da chuva que continuava caindo, ela estava ensolarada com a xícara perfeita do seu chá branco, branco como a paz que agora ocupava o espaço antes sombrio de seu coração.