quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Um dia de sol, mil inquietações

 

Depois de alguns dias de chuva, o sol veio se manifestar mostrando sua presença firme e potente. Um dia de sol, mil inquietações.
Olho pela janela e as folhas estão ressequidas, vou molhar mais tarde. Interessante o fluxo de ir e vir nos ensinando o trabalho do desapego. Tudo é fluido e fugaz na existência.
Hoje chove, amanhã faz sol. Sorrimos e choramos alternadamente. Achamos e perdemos. Nos apaixonamos e terminamos. Chegamos e partimos. 
Um dia de sol, mil inquietações. Nascemos e morremos. A Maya nasceu, o Paulo se foi.  
Pensar na finitude de forma libertadora sem que nos submetamos a ela é encontrar a paz do desapego. Ir e vir são acontecimentos para nos depararmos com um novo momento histórico. Afinal todo dia que amanhece é de verdade um novo momento histórico. Novos ciclos, nova forma de olhar.
Vamos assumir o protagonismo nas escolhas, na vida.  Não somos submetidos ao que vem de fora, usamos o que aprendemos para uma transformação rumo a uma nova visão de mundo. 
Temos escolha! Autoconhecimento vai facilitar a assimilação dessa ideia. Cada dia nascemos para mais uma oportunidade existencial. Nosso caminhar é sagrado, que possamos nos lembrar disso diariamente...
Enquanto estamos por aqui, vamos fazer valer a pena. Chorar e ficar triste faz parte da existência, acolha o que sente, respire e siga em frente, muitas coisas boas acontecem o tempo todo e ruins também e tudo bem, fazem parte da dinâmica da existência.
Tem muito amor espalhado por aí. Seu animal te lembra o tempo todo que te ama. O florescer te lembra de encantar-se com as multicores. O dia amanhece e te lembra que tudo continua cotidianamente.
Seja gentil com você, olhe-se, acolha-se. Só pode doar quem tem. Siga sua intuição, seja protagonista de sua história, pense na velocidade da existência e sim seja o mais feliz que você puder ser. Um dia de sol, mil inquietações e transbordamento...


sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Meu Fuscão Preto - Crônicas do Chá

 


''Lembranças que nos trazem sorrisos e lágrimas ao mesmo tempo.''

Clarice Lispector

 

Clarice descreve bem meus momentos, ela parece que entende meus devaneios. Existe uma conexão visceral quando a leio, eu a busco, a persigo, sempre com encantado interesse.
Esta semana, Marcia Luz me presenteou com o desenho que ilustra este post. Fui longe nessa imagem.

Lembrei de um grande e inesquecível amigo que partiu para o plano espiritual com uma pressa, que na época achei descabida. Foi rápida sua passagem pelo planeta e nossa amizade teve altos e baixos, muito mais altos, vale ressaltar. Muitos pontos altos, altíssimos mesmo.

Foram muitos chás na confeitaria Colombo, em uma mesa numa varanda que não mais está acessível nos dias de hoje. Qual chá, não lembro, perdido deliciosamente nos idos do tempo.  Esquecíamos da hora tomando chá com gulodices e ríamos e chorávamos e contávamos segredos escondidos.

Nossa saída da Confeitaria Colombo era quando um garçom com um sorriso simpático nos entregava a conta, ao olharmos em volta víamos as cadeiras de pernas para o ar em cima das mesas, ríamos mais com sensação de déjà vuDoces lembranças. Doce amigo.

Assisti com ele a nossa primeira ópera, lembro bem, era Turandot, conhecemos Puccini juntos, encantados, inebriados pelas cores, pelos sons, pela magia, "Nessun dorma! Nessun dorma!" Entendíamos tudo sem entender uma só palavra cantada. Ah... quantas adoráveis lembranças!

Mas e o fuscão preto? O primeiro carro desse amigo, comprei dele depois, ele quis alçar outras marchas com carros mais possantes e de preferência zero quilometro “para que eu não tenha que me preocupar com nada”, dizia ele com a consciência de ser desajeitado para trabalhos braçais, queria ser Juiz, mas...não deu tempo.

Ajudei a escolher o fuscão, fomos juntos pegar na concessionária, cheirinho de carro novo. Nunca um carro foi tão parado nas blitz policiais. "Blitz, documentos... só temos instrumentos..." mas sempre tínhamos documentos em ordem, ambos não transgredíamos as Leis pois já éramos transgressores das normatizações sociais que não engolíamos tão facilmente. Rebeldes discretos éramos nós. Vivíamos livres das amarras convencionais, criávamos nossa própria história. Cultura Brasileira era a matéria que eu oferecia a lição, Geometria Euclidiana era a vez dele. Nos conhecemos na faculdade e parecíamos amigos de infância, sabíamos tudo um do outro. Era uma cumplicidade só.

Sinto saudade, saudade boa sem lamentações, saudade do amigo, do fusca, do tempo vivido. Esse fusca está plasmado na minha memória, como esse amigo querido.

Estou tranquila com a saudade, sei que nos encontraremos quando a viagem for a minha, sem pressa. Lembraremos do fuscão preto e de todos os vínculos que nos uniram, esses vínculos não ficam perdidos no tempo, ficam arquivados para acessar no futuro encontro.

Até lá, deixo meu carinho para você Gilmar, meu amigo querido e minha gratidão a Marcia Luz que sem saber, trouxe essa possibilidade de história. O fuscão preto, imagino, continua a vagar por aí, meu amigo no outro plano astral, eu por aqui contando e recontando as miçangas de minhas histórias. "Lembranças que nos trazem sorrisos e lágrimas ao mesmo tempo.” 

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Professor faz história

“A Educação tem caráter permanente.
Não há seres educados e não educados.
 Estamos todos nos educando.” Paulo Freire! 


Profissão especial esse tal de magistério, afinal figura no universo desde tempos imemoriais. É possibilidades de troca crítica e criativa. É profissão filosófica, terapêutica, transcendental. Estive transitando neste universo diariamente por mais de 30 anos e esse fervor permanece em mim através da minha existência.
O professorado traz o gérmen da inquietude, da insatisfação, principalmente pelo descaso que vê com a educação, mas não é uma insatisfação paralisante, é ativa, estruturante e estruturadora.
Entendemos que educação é um direito legitimo de todos e todas e que necessita ser mais bem cuidada pelos poderes públicos e privados, pois é indicadora de sustentação cultural. Bons pensamentos e boas ações tem como base uma boa educação, inclusive a escolar. 
O magistério representa a esperança no porvir, desafiando as dificuldades inerentes a sua rotina. Onde quer que estejamos colhemos sementes que podem ser plantadas nas aulas, e tudo bem se não frutificarem de imediato. Existem frutos não visíveis, que só o tempo vai fazer amadurecer, por vezes, muito tempo.
Temos a  certeza de que a permanência de cada ser nesta honrosa profissão garante a manutenção e perpetuação do saber e das múltiplas relações que se estabelecem. Relações cada vez menos centradas no poder e mais centradas no acolhimento e na amorosidade.
Essa amorosidade do professor se estende a toda humanidade, é próprio da profissão amar os seres da criação e estar grato por mais um dia de alegria com os sucessos, e de resignação ativa com as incompreensões. Professor faz história com a alma!
O professor é um intelectual modesto, sempre recorrendo a Sócrates na certeza de que nada sabe, que seu saber está sempre em construção. E vai se construindo em espiral ascendente.
Certos de que a construção da nova sociedade é obra do coletivo, o professorado fica na luta simbólica e na fé ativa. Agradecido pela existência dos alunos, seres queridos fundamentais para sua existência e  permanência, professores caminham juntos com seus alunos, essa é sua força trazendo a semente do porvir.
Paulo Freire afirma ainda que quem não sabe amar os seres inacabados não pode educar. Os professores sabem-se seres inacabados e o tempo todo estão buscando agregar valores e conhecimentos.
Gratidão eterna aos professores que passaram pela minha vida e que auxiliaram na minha trajetória, que me fortaleceram para construir quem sou. E, é claro, a todos os alunos que passaram pela minha vida e que me tornaram uma pessoa melhor, gratidão eterna!
Bênçãos para estes agentes de mudança, artífices do novo e propagadores da fé e da esperança. Parabéns para todos e todas nós, ontem, hoje e através dos tempos. 

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Diário de Bordo - Cachoeira São Bento

Leve, suave, um passeio no bosque. 


Natureza sempre é Renovação. 


A fluidez da água nos ensina a também permitir que as coisas fluam sem tanto controle da nossa parte.


Colocar os pés na água e se entregar a essa massagem sem igual, abençoando, orando, meditando, sendo feliz, nesse momento, aqui e agora.


Observar as cores, os formatos, o entrelaçamento amoroso das espécies vegetais nos ensinam como ficar em conexão, com abertura para aceitar o que vem de forma amorosa, receptiva, também impondo nossa presença sem nos descaracterizar para nos integrar.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Diário de Bordo - Cachoeira dos Cristais

Diário de Bordo da 
Chapada dos Veadeiros - Goiás 


Cachoeira dos Cristais

É deslumbrante essa Chapada, venha inúmeras vezes e sempre se encante e surpreenda.


Trilha tranquila essa da Cachoeira dos Cristais. 


Estar na natureza é estabelecer uma profunda conexão com o nosso sagrado. 



São algumas paradas obrigatórias bem aprazíveis : Poço da Vovó, Massagem, Canto da Paz, Corredeiras, Segredo e Véu da Noiva




quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Chá com Poesia - Melancolia


Quando em vez
anoitece o ser.
Corpo desalinhado.
Coração descompassado.

Pensamento vacilante
como passos de um ébrio louco.
Momentos desorganizados.
Momentos fragmentados.

Um antídoto surge na prateleira.
Chá verde agroflorestal.
Um pacote com verdes folhas.
Trazendo a límpida natureza.

O alinhamento da floresta
costurando o corpo em desalinho.
Seu aroma herbal organiza
o coração desajustado.

Seu  suave calor firma
os passos vacilantes.
A harmonia desse chá une
o que antes estava fragmentado.

É a manifestação do divino nas folhas,
É a manifestação do divino na água,
É a manifestação do divino na xícara,
É a manifestação do divino em nós. 

Ah! O poder...
A força, a beleza
de uma xícara
de chá perfeita...

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Crônicas do chá - Chá Verde

 

Caminhava lentamente pela Calle Corrientes, para ela, a mais interessante avenida portenha, ia em direção à Calle Florida.  Estava frio e caminhar era bom. Buenos Aires sempre a encantou. Esses lugares eram para se admirar, de tudo um pouco havia ali, um mosaico de prazeres para os sentidos e para além dos sentidos.
Tirou o celular da bolsa para conferir o endereço, estava perto, seu coração acelerou. Parou olhando uma vitrine sem nada ver. Sabia que chegaria primeiro, andou mais devagar. Mirou-se pelo vidro da vitrine, sua figura apareceu esfumaçada pelo vidro antigo, com o chapéu vermelho e a echarpe colorida, estava bem, muito bem.
Chegou em frente ao local combinado. Local bem aprazível, entrou pensando que era mesmo um bom lugar para um encontro ou reencontro.
Estava quase vazio, era uma boa hora também. Olhou e escolheu um lugar com vistas para a porta, gostaria de ver a sua entrada triunfal, riu-se da imagem dessa entrada triunfal, era mais para uma tímida entrada. A imagem foi interrompida pelo gentil garçom.
Sabia que podia antecipar o pedido, sempre pediam chá. Chás diferentes, claro, provavam ambos os chás fazendo bobas apreciações, mas havia um bom tempo que não se viam. Sacudiu a cabeça para espantar a dúvida. Não havia dúvida.
O garçom retorna, diz um sim confiante, vai pedir. - Chá verde por favor, um Jasmim Tea o outro puro, pode ser um Darjeeling Green. Havia uma razão de ser para essa escolha. O perfumado Jasmim Tea foi o primeiro chá que partilharam, já o Darjeeling Green teria o sabor desconhecido dessa nova fase de suas vidas e com ares de celebração já que os jardins de chá desse local na Índia tem fama de ser o champanhe dos chás. Bem propício para  tal momento de suas vidas.
Os acompanhamentos serão por sua conta, pensou. Sempre foi pontual e sempre escolheu bem o que comer.
Arrumou a echarpe, tirou o chapéu vermelho pousando em uma cadeira, passou as mãos pelos cabelos de forma tranquila. Sabia que  chegaria logo. Pensou e aconteceu.
Entra pela porta com um sorriso, que sorriso, os cabelos estão mais grisalhos, observou. É um momento pleno de encantamento.
Os chás chegam junto, duas entradas esplêndidas, com seus aromas mágicos e inebriantes. As mãos se tocam, nada precisa ser dito, os chás tem gosto de saudade, esperança e alegria. Olhos nos olhos e sorrisos. Agora, está tudo na mais perfeita ordem.