“As palavras não têm a ver
com as sensações. Palavras são pedras duras e as sensações delicadíssimas,
fugazes, extremas.”
Este
fragmento de Clarice Lispector fez, hoje, um sentido excepcional e tenho sido perturbada nestes últimos tempos por ele. Como sentir na pele a dureza das
palavras e aprender a processá-las de forma acolhedora? Sentindo todo sofrimento
cabível e realizando um esforço para proceder à compreensão do contexto sem permitir
que as sensações “delicadíssimas” e “extremas” te paralisem?
A
cada dia nossa dualidade se mostra, e nossa decisão de se construir um ser
melhor é colocada em xeque. Mergulhar na dor da dureza das palavras e extrair
delas o núcleo sadio, para que as sensações delicadas se tornem mais bem
elaboradas, de extremas, se tornem equilibradas é tarefa lamentosa e complexa.
Exige de nós recolhimento, reflexão, sofrimento, meditação. Muitas perguntas,
muitas indagações...
Vem
um lampejo da culpa judaico-cristã, que me persegue, e que o processo terapêutico tem minimizado, encontro aí no núcleo são da
minha loucura, a possibilidade da minha fragilidade de comunicação reverberar
no ambiente e trazer estas pedras duras e destrutivas, eu criando a
possibilidade da destruição com minha inabilidade face ao mundo.
Trago
a dor intensa de Clarice para utilizá-la como advogada de minha própria dor e
melancolia. “Só os vira-latas me entendem”, quando li, reli e sorri,
identificação total. Os vira-latas aceitam o que lhes é ofertado e entendem com
a fidelidade dos sentidos que foi dado o possível, o que se podia oferecer. E
alegres, abanam o rabo, definitivamente busco ser o vira-latas da Clarice, com
meu metafórico rabo do esforço supremo no entendimento, que busco intensamente,
sofregamente...
Clarice
também me ensina enfaticamente: “calar-se é nascer de novo”, isto eu entendo
mais com a razão do que com a ação, tanto que estou aqui na antítese do calar,
expressando publicamente minha amargura, me recusando ao “nascer de novo”
próprio do silêncio. Busco o silêncio e
a calmaria com lupas de alto nível que encontram barreira na minha miopia de
alto grau.
Lanço
mão das palavras construtoras de Clarice, para que venham ao meu auxilio e me
amparem para extrair o que de bom posso tirar do destrutivo que encontro nas
palavras manifestas.
Afundada
em meu sofá mais ou menos confortável me vem a inspiração, e mesmo sem
inspiração desejo expandir e dizer o que hoje eu sinto. Que bom que “fugazes”
aparece nas palavras, e estas sensações irão se dissipar com o vento que tem
todo poder de levar para bem longe, deixando apenas as lições no fundo da alma
inquieta e sofrida, que se constrói a cada dia com as pedras duras que recolhe
no caminho. Tenho fé em meu poder de transmutação, sou camaleoa, mutante e
desenfreada.
Para
finalizar trago mais uma vez o aporte delicioso dela, minha musa, a quem chamei todo tempo neste discurso
pé de chinelo roto e cansado. “Não se escreve para a literatura, escreve-se para cobrir um vazio, vencer a descontinuidade.” Pronto!
Clarice, é isso mesmo! Hoje tagarelo em toques digitados para cobrir o vazio
deste momento e para romper a descontinuidade com uma nova descontinuidade e
agora calar.
MUITO BOM O TEXTO TERESA... A MAGIA DE CLARICE EM SE EXPRESSAR MESMO QUE MUITOS NÃO A COMPREENDAM, MESMO QUE PARA MUITOS NÃO FAZ O MENOR SENTIDO. MAS O ADMIRÁVEL É EXATAMENTE A CORAGEM DE CONTAR SUA VERDADE PESSOAL.
ResponderExcluirImagina que só vi esse Belo comentário hoje quando lembrei desse texto que hoje me reflete. Gratidão!
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