sexta-feira, 1 de julho de 2016

COMPROMETER-SE...


“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento. ” Fala minha musa Clarice Lispector. Relacionar-se amorosamente é mesmo mergulhar no desconhecido e só se experimenta essa sensação, indo.... Estar junto traz sabores e dissabores, aproveitamos os sabores e saberes e aprendemos a lidar com os dissabores.
Acordei pensativa! Li uma outra frase muito boa de Guimarães Rosa: “Viver é um rasgar-se e remendar-se”. Não sei porque tanta reflexão que hoje puxo tudo para o amor romântico, deve ser o friozinho gostoso do mês de julho que se inicia, não sei se é porque é sexta-feira, ou por um sonho legal que tive esta noite, ou porque a Netflix está reprisando “Gilmore Girls”, mas hoje resolvi falar de amor e de amar.
Lembrei de uma situação desta semana, me perguntava uma mulher triste que terminou o namoro e queria um floral para tristeza:
- Porque ele não quer se comprometer?
Ora, pensava eu, que sorri sem saber a resposta, respondi amorosa que ela poderia se comprometer com ela mesma, se amando muito para compensar o desamor que ela estava sentindo. Fui sincera! Mas fiquei pensando na pergunta e no termo: comprometer! O que é comprometer-se?
Na hora lembrei de um dos meus livros de cabeceira “Educação e Mudança” de Paulo Freire. No capítulo “compromisso do profissional com a sociedade”, diz que antes de ser um bom profissional, ele mesmo enfatiza, faz-se necessário ser uma boa pessoa. Agora vou na licença poética que eu mesmo estou me dando e trago para a vida amorosa no mundo.
Em qualquer ato de compromisso cada um é o protagonista sempre. E tem que fazer o seu melhor, se aprimorar, investir... E deixar fluir... mais fácil falar que fazer...
Recorto alguns fragmentos de Freire, extraindo o que nos interessa para essa ponderação sobre o ato comprometido:
“Sentimos a necessidade de uma penetração cada vez maior no conceito de compromisso. Quem pode comprometer-se? É uma pergunta que se antecipa a qualquer situação de compromisso. A resposta a essa indagação nos faz entender o ato comprometido, que começa a desvelar-se diante de nossa curiosidade.
De fato, ao nos aproximarmos da natureza do ser que é capaz de se comprometer, estaremos nos aproximando da essência do ato comprometido.
A primeira condição para que um ser possa assumir um ato comprometido está em ser capaz de agir e refletir.
É preciso que seja capaz de, estando do mundo, saber-se nele.
Não é possível um compromisso autêntico se, àquele que se julga comprometido, a realidade se apresenta como algo dado, estático e imutável. ”
Muitas observações constam nesses pensamentos.  Fui procurar a origem do termo, vamos lá, o que encontrei: A palavra compromisso deriva do termo latim compromissum e refere-se a uma obrigação contraída ou à palavra que se honra.
A vida não é simplista e nem sempre um compromisso se estabelece em contrato ou até mesmo em palavras. Vai acontecendo simplesmente, um olhar, uma dancinha, um toque na cintura, outro olhar, mais dança, mais toque e beijos, beijos demorados.... Como é bom estar com alguém que passa o dedo no seu braço levemente, sorrindo e te olhando nos olhos, que aparece com uma rosa depois de uma briga, que te abraça e chora junto.... Muito bom e sabemos disso, vivemos ou lembramos, hoje, ando lembrando...
Comprometer-se já vai além dessa delícia toda, envolve cotidiano e todas as suas peculiaridades. Lidar com as idiossincrasias suas e do outro.
Nas relações amorosas os pactos não se estabelecem de início, vão se construindo aos poucos com a convivência. É fundamental que as pessoas se saibam nele, parece muito básico, mas não é.
Minha “desabafadora” conhecia seu amado e sabia-lhe as limitações e mesmo assim assumiu o compromisso consigo mesma de ali ficar, mas o peso foi grande. O que ela não aceitava é que tem que ser bom para ambas as partes, se não for, deixe o contrato de lado e estabeleça com outra pessoa novos contratos, pois ninguém consegue ser o que não é. Claro que não seria de imediato esse novo contrato, terminar uma relação causa enlutamento, todas as fases do luto são vividas e se entrar alguém no meio, vai sofrer.
Freire fala também de transformações, alguém cede dali, outro alguém cede daqui e os contratos vão se estruturando após análise das realidades e do desejo das transformações.
Para viver um amor é necessário uma boa dose de negociação e “jogo de cintura”. Porém existem coisas muito cristalizadas que formam até a base de nossa personalidade, aí não dá para negociar. Ou a pessoa aceita ou quebra o pacto seguindo em frente, de preferência sem reclamar muito. O que de fato é difícil.
Freire ainda afirma que ação e reflexão fazem parte do ato comprometido. Assumir sua parcela de engano é uma boa estratégia amorosa, nunca estamos 100% certos, nem 100% errados. Muitas vezes agimos como foi possível no momento, nem sempre como gostaríamos. Não é útil para o ato comprometido sempre culpar o outro. Afinal minha mãe dizia que “a culpa é feia e ninguém quer a sua paternidade”.
Não vai aí uma sugestão de se culpabilizar, e sim de aceitar os ditames da realidade e lançar olhar sobre as ações e promover a reflexão necessária. O orgulho e a vaidade aí vão sofrer um baque. Assumir que errou nem sempre é fácil, já foi mais difícil para mim, que saí de um extremo ao outro, ou me culpava 100% ou culpava o outro 100%, agora entendo que entre 0% e 100% tem uma boa escala que vale considerar.
Aprendi com as décadas vividas que relativizar é a melhor política e ainda está dentro das novas tendências de pensamento, afinal tudo é relativo.
Louise Hay no livro “Você pode curar sua vida” me ofereceu uma importante contribuição, tem uma frase que funciona para mim como um mantra:
- Eu te perdoo por não ser o que eu gostaria que você fosse, te perdoo e te liberto. E acrescento: Me perdoo por não ser quem eu gostaria de ser, me perdoo e me liberto. Pronto! Fecho o ciclo da desilusão.
Que nossa amiga que terminou o namoro culpando o outro, encontre alguém que queria se comprometer como ela e que ele encontre alguém que queira se comprometer como ele e ambos serão felizes, dentro das realidades que se consorciaram. Dentro de suas visões sobre o ato comprometido. Talvez, havendo amor, ambos possam amadurecer e quem sabe “acertar os ponteiros”, o tempo é sábio e faz maravilhas.
Como hoje estou romântica, quero que todos sejam felizes, incluindo eu, que ando me remendando com cores alegres, comprometendo-me primeiramente comigo mesma. Fortalecendo bases tão sólidas e firmes que quando o outro chegar ou voltar, encontre uma casa bem construída dentro do coração, que esse ser que chega ou volte, queira comprometer-se sendo cada um o que é, e juntos formem AMOR! Simples e leve: AMOR!
Para abençoar a todos divido uma página do livro “Sempre Melhor” de José Carlos de Lucca, esta página foi aberta “ao acaso” e foi muito boa mesmo:
“Se você não estiver bem consigo mesmo, você não estará bem com o resto do mundo.
Nada lhe dará certo. Nenhum emprego será bom, nenhum relacionamento será satisfatório, nenhuma conquista o preencherá, absolutamente nada estará bom para você. Você acordará desmotivado, cansado e o tédio dominará as longas horas do seu dia.
Você se sentirá perseguido por um forte inimigo que é você mesmo. Mas há um espaço em nós onde tudo é belo, simples e maravilhoso. Um espaço onde a energia é exuberante, onde nossos caminhos se abrem, onde as portas se destrancam, onde a vida volta a ser feliz.
Em nosso mundo interior há um jardim secreto onde nos abrigamos em paz, onde choramos sem vergonha, onde nos sentimos livres de julgamentos, onde nossa criança brinca despreocupada, onde nosso amor não tem limites, onde Deus mora conosco. ”
CHUVA DE BÊNÇÃOS NA BUSCA DESSE JARDIM SECRETO!







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