“Renda-se,
como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se
preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento. ” Fala minha musa
Clarice Lispector. Relacionar-se amorosamente é mesmo mergulhar no desconhecido
e só se experimenta essa sensação, indo.... Estar junto traz sabores e dissabores,
aproveitamos os sabores e saberes e aprendemos a lidar com os dissabores.
Acordei
pensativa! Li uma outra frase muito boa de Guimarães Rosa: “Viver é um
rasgar-se e remendar-se”. Não sei porque tanta reflexão que hoje puxo tudo para
o amor romântico, deve ser o friozinho gostoso do mês de julho que se inicia,
não sei se é porque é sexta-feira, ou por um sonho legal que tive esta noite,
ou porque a Netflix está reprisando “Gilmore Girls”, mas hoje resolvi falar de
amor e de amar.
Lembrei
de uma situação desta semana, me perguntava uma mulher triste que terminou o
namoro e queria um floral para tristeza:
- Porque
ele não quer se comprometer?
Ora,
pensava eu, que sorri sem saber a resposta, respondi amorosa que ela poderia se
comprometer com ela mesma, se amando muito para compensar o desamor que ela
estava sentindo. Fui sincera! Mas fiquei pensando na pergunta e no termo:
comprometer! O que é comprometer-se?
Na hora lembrei
de um dos meus livros de cabeceira “Educação
e Mudança” de Paulo Freire. No capítulo “compromisso
do profissional com a sociedade”, diz que antes de ser um bom profissional,
ele mesmo enfatiza, faz-se necessário ser uma boa pessoa. Agora vou na licença poética
que eu mesmo estou me dando e trago para a vida amorosa no mundo.
Em
qualquer ato de compromisso cada um é o protagonista sempre. E tem que fazer o
seu melhor, se aprimorar, investir... E deixar fluir... mais fácil falar que
fazer...
Recorto
alguns fragmentos de Freire, extraindo o que nos interessa para essa ponderação
sobre o ato comprometido:
“Sentimos a necessidade de uma penetração
cada vez maior no conceito de compromisso. Quem pode comprometer-se? É uma
pergunta que se antecipa a qualquer situação de compromisso. A resposta a essa
indagação nos faz entender o ato comprometido, que começa a desvelar-se diante
de nossa curiosidade.
De fato, ao nos aproximarmos da natureza do
ser que é capaz de se comprometer, estaremos nos aproximando da essência do ato
comprometido.
A primeira condição para que um ser possa
assumir um ato comprometido está em ser capaz de agir e refletir.
É preciso que seja capaz de, estando do
mundo, saber-se nele.
Não é possível um compromisso autêntico se,
àquele que se julga comprometido, a realidade se apresenta como algo dado,
estático e imutável. ”
Muitas
observações constam nesses pensamentos.
Fui procurar a origem do termo, vamos lá, o que encontrei: A palavra compromisso
deriva do termo latim compromissum e refere-se a uma obrigação contraída ou à
palavra que se honra.
A vida
não é simplista e nem sempre um compromisso se estabelece em contrato ou até
mesmo em palavras. Vai acontecendo simplesmente, um olhar, uma dancinha, um
toque na cintura, outro olhar, mais dança, mais toque e beijos, beijos
demorados.... Como é bom estar com alguém que passa o dedo no seu braço
levemente, sorrindo e te olhando nos olhos, que aparece com uma rosa depois de
uma briga, que te abraça e chora junto.... Muito bom e sabemos disso, vivemos ou lembramos, hoje, ando lembrando...
Comprometer-se
já vai além dessa delícia toda, envolve cotidiano e todas as suas peculiaridades.
Lidar com as idiossincrasias suas e do outro.
Nas relações
amorosas os pactos não se estabelecem de início, vão se construindo aos poucos
com a convivência. É fundamental que as pessoas se saibam nele, parece muito
básico, mas não é.
Minha
“desabafadora” conhecia seu amado e sabia-lhe as limitações e mesmo assim
assumiu o compromisso consigo mesma de ali ficar, mas o peso foi grande. O que
ela não aceitava é que tem que ser bom para ambas as partes, se não for, deixe
o contrato de lado e estabeleça com outra pessoa novos contratos, pois ninguém
consegue ser o que não é. Claro que não seria de imediato esse novo contrato,
terminar uma relação causa enlutamento, todas as fases do luto são vividas e
se entrar alguém no meio, vai sofrer.
Freire
fala também de transformações, alguém cede dali, outro alguém cede daqui e os
contratos vão se estruturando após análise das realidades e do desejo das
transformações.
Para
viver um amor é necessário uma boa dose de negociação e “jogo de cintura”. Porém
existem coisas muito cristalizadas que formam até a base de nossa
personalidade, aí não dá para negociar. Ou a pessoa aceita ou quebra o pacto
seguindo em frente, de preferência sem reclamar muito. O que de fato é difícil.
Freire
ainda afirma que ação e reflexão fazem parte do ato comprometido. Assumir sua
parcela de engano é uma boa estratégia amorosa, nunca estamos 100% certos, nem
100% errados. Muitas vezes agimos como foi possível no momento, nem sempre como
gostaríamos. Não é útil para o ato comprometido sempre culpar o outro. Afinal
minha mãe dizia que “a culpa é feia e ninguém quer a sua paternidade”.
Não vai
aí uma sugestão de se culpabilizar, e sim de aceitar os ditames da realidade e
lançar olhar sobre as ações e promover a reflexão necessária. O orgulho e a
vaidade aí vão sofrer um baque. Assumir que errou nem sempre é fácil, já foi
mais difícil para mim, que saí de um extremo ao outro, ou me culpava 100% ou
culpava o outro 100%, agora entendo que entre 0% e 100% tem uma boa escala que
vale considerar.
Aprendi
com as décadas vividas que relativizar é a melhor política e ainda está dentro
das novas tendências de pensamento, afinal tudo é relativo.
Louise Hay
no livro “Você pode curar sua vida”
me ofereceu uma importante contribuição, tem uma frase que funciona para mim
como um mantra:
- Eu te
perdoo por não ser o que eu gostaria que você fosse, te perdoo e te liberto. E
acrescento: Me perdoo por não ser quem eu gostaria de ser, me perdoo e me
liberto. Pronto! Fecho o ciclo da desilusão.
Que nossa
amiga que terminou o namoro culpando o outro, encontre alguém que queria se
comprometer como ela e que ele encontre alguém que queira se comprometer como
ele e ambos serão felizes, dentro das realidades que se consorciaram. Dentro de
suas visões sobre o ato comprometido. Talvez, havendo amor, ambos possam amadurecer
e quem sabe “acertar os ponteiros”, o tempo é sábio e faz maravilhas.
Como hoje
estou romântica, quero que todos sejam felizes, incluindo eu, que ando me
remendando com cores alegres, comprometendo-me primeiramente comigo mesma. Fortalecendo
bases tão sólidas e firmes que quando o outro chegar ou voltar, encontre uma
casa bem construída dentro do coração, que esse ser que chega ou volte, queira
comprometer-se sendo cada um o que é, e juntos formem AMOR! Simples e leve:
AMOR!
Para
abençoar a todos divido uma página do livro “Sempre Melhor” de José Carlos de
Lucca, esta página foi aberta “ao acaso” e foi muito boa mesmo:
“Se você
não estiver bem consigo mesmo, você não estará bem com o resto do mundo.
Nada lhe
dará certo. Nenhum emprego será bom, nenhum relacionamento será satisfatório,
nenhuma conquista o preencherá, absolutamente nada estará bom para você. Você
acordará desmotivado, cansado e o tédio dominará as longas horas do seu dia.
Você se sentirá
perseguido por um forte inimigo que é você mesmo. Mas há um espaço em nós onde
tudo é belo, simples e maravilhoso. Um espaço onde a energia é exuberante, onde
nossos caminhos se abrem, onde as portas se destrancam, onde a vida volta a ser
feliz.
Em nosso
mundo interior há um jardim secreto onde nos abrigamos em paz, onde choramos
sem vergonha, onde nos sentimos livres de julgamentos, onde nossa criança
brinca despreocupada, onde nosso amor não tem limites, onde Deus mora conosco.
”
CHUVA DE
BÊNÇÃOS NA BUSCA DESSE JARDIM SECRETO!
Belo texto Tē! Estava inspirada!
ResponderExcluirVocê sabe que esse Guimarães Rosas herdei de você. Gratidão pelo carinho!
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