sexta-feira, 30 de setembro de 2016

QUANDO AMAR TRAZ A TONA LIXO ACUMULADO, ESCONDIDO, ENRAIZADO...

E vamos de conselheira matrimonial mais uma vez. Bom, pois falo primeiro para mim mesma e OUÇO.
Desta feita quem me solicita pergunta: por que se relacionar amorosamente com alguém é tão complicado e faz sair o pior em nós?  Resposta? Muitas ou nenhuma.
O que me ocorreu, vasculhando na mente meus estudos sobre a natureza humana e meus próprios insucessos, foi o seguinte: se entregar a uma paixão, dá um descanso para as defesas. Os sentidos ficam aguçados, o ritmo cardíaco muda e até o tônus muscular reacende, existe um brilho no olhar que é perceptível para todos. Mas esse estado de graça não permanece infinitamente, pois a vida flui.
E é aí que aparecem nossos lixos acumulados, escondidos, enraizados... Como diz a música "sentimento ilhado, morto e amordaçado, volta a incomodar", trazendo para nosso contexto reflexivo.
Em uns o surge o medo do abandono, da rejeição, a tristeza escondida, o desejo de pertencimento recalcado,  em outros o medo de ser invadido, roubado, traído, vilipendiado, alguns se descaracterizam submetendo- se a abusos e maus tratos e tem os que maltratam, se vingam, desdenham. Por aí vai, as emoções vem aos turbilhões. E tudo gira em torno do medo. Inimigo oculto que surge incômodo sem ser convidado. Medo dói e assusta.
E como dói!  Quando essa dor desconfortável  surge, ao invés de olhar para dentro, se olha para fora, ali está o ser amado. Pronto: culpado! 
Numa inocência quase infantil não nos apercebemos disso. E aquela fofura toda vira um risco, o risco de se perder de si, de se magoar, de sofrer...
Sartre genialmente nos diz que o "inferno são os outros ", pois é... os outros me mostram mais de mim do que eu gostaria de ver.
Mas quem se vê explícitamente no outro? Quando o outro se manifesta,  está agindo do seu jeito possível,  também com seus medos com suas idiossincrasias. Mas eu o ser apaixonado, que estou misturado nesse emaranhado de sensações e sentimentos, tomo tudo como sendo pessoal e reajo.
A questão é que os envolvidos sentem coisas parecidas embora com manifestações diferentes: sentem medo!
Eu reajo zangada, enraivecida, trazendo à tona o lixo escondido. O outro fica ali frio e distante,  se protegendo, um outro se afasta, delimitando seu espaço de dor, outro briga junto e aí o lixo vem para fora, mas volta para dentro transformado em culpa. Todas essas posições são mais defesa que ataque.
Ui! Mais lixo acumulado. Culpa, então é uma grande inimiga, fica ali até por décadas, disfarçada de aceitação ou sai desordenada e se torna agressividade. Quem nunca ouviu que a melhor defesa é o ataque? Se for consciente é até melhor,  mas quando não é... E na maior parte das vezes é defesa inconsciente. Proteção da sobrevivência emocional e custa caro, muito caro. O maior preço é a solidão e a saudade.
Um dia reclamava sobre uma vingança que senti na pele e que me magoou muito, falando  percebi que era defesa, dar o troco é se tornar protagonista, é uma forma de auto proteção. Entendi, zanguei, sofri, mas entendi. Entrei no jogo e disputei. Perdemos ambos, pois não existe vencedor nessa disputa. Disputa por quem manda mais e tem mais razão, da mesma forma que a subserviência, são manifestações da luta de poder.
O jogo de poder que se estabelece nas relações é indicador dos jogos de força que se viveu na trajetória de vida. Nunca me vinguei pois sempre bati, mas quem não bate de um jeito, bate de outro...
Enfim para minha querida que pede explicações sobre sua vida amorosa, ofereço o que colhi aqui e ali, enfatizando a esperança de que possamos nos tornar pessoas melhores, faxinando  nosso lixo interior, não para debaixo do tapete do esquecimento, mas trazendo a superfície para que possamos encontrar a possibilidade de cura das nossas dores da alma.
Abrindo a possibilidade de sermos felizes que é o que todos buscamos. Com um bom amor possível ao nosso lado, sem procurar 100% pois isso é ilusório. 100% tem que ser de esforço de mudança, de parceria  e cumplicidade, de aceitação do que cada um pode ser nessa maravilhosa oportunidade de viver.
Ilustro com a bela e pouco valorizada flor "cravo " amarelo plexo solar, que vai atuar na nossa sensibilidade de ver o belo onde quer que ele  esteja.
Chuva de bênçãos para quem está com o coração aberto para a esperança:  TODOS NÓS!

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