Momentos
difíceis como o que estamos vivendo tendem a nos aproximar mais da fé ou até da
falta dela.
Muito se
tem falado sobre fé. Isto independe de religião. Existem pessoas que dizem ter
fé no Criador, porém se mostram sem fé em si mesmas. Sempre vendo o pior em
cada situação. É claro que se a questão é ter fé, firmeza e confiança deveriam
ser condições de existência e trânsito no mundo. A visão pessimista vem
acompanhado muitas pessoas por tempo demais e fazendo com que mantras tóxicos
sejam entoados esquecendo que negatividade atrai negatividade.
Quem tem
fé confia! Confia? Ou fé virou artigo de algumas lojas de variedades, tem ali,
é barato, mas a qualidade... essa deixa a desejar... Aí vem a questão da
religiosidade e espiritualidade que me causam confusão. Falo o que entendo.
Religião
é um corpo doutrinário seguindo princípios, crenças e teorias, tendo como base
textos considerados sagrados ou estritamente confiáveis, divinos ou
transcendentes. No sentido estrito vem do latim que significaria reverência e
se compreendeu ao longo do tempo como religação, "religare".
Já
religiosidade seria a prática efetiva desses preceitos. Pratica a religiosidade
quem se coaduna com a religião e a torna artigo de prática e fé.
Espiritualidade
já vem de outra base, não se circunscreve a corpos doutrinários. Embora nas
religiões a espiritualidade seja indicada e até desejada.
A grande escola de meditação Brahma Kumaris nos dá uma bela noção quando diz, trazendo exemplo do cotidiano:
"A espiritualidade é como um modo de vida.
Pegue algo pequeno como acordar as crianças. Deveria ser duro tirá-las da cama?
Ou eu posso fazer isso de uma maneira diferente? Isso é espiritualidade. Não é
nada separado de viver. Simplesmente consiste em fazer tudo o que eu estou
fazendo hoje, mas cuidando de como eu sou por dentro ao fazê-lo. Fique feliz,
seja fácil, seja contente e então faça tudo."http://www.brahmakumaris.org/brazil
A
espiritualidade é mais nobre, pensando assim, pois transcende credos, é
abertura para bondade e ética genuína. Não se professa essa ou aquela doutrina,
mas se vê um todo maior, não se é bom por medo ou culpa, se é bom porque é próprio
do humano e todos merecem ser tratados de forma amorosa e respeitosa.
A
religião pode ser desculpa para atos desumanos como temos visto ao longo do
tempo. Um dia uma senhora me diz que não sou filha de Deus, sou criatura
de Deus. Querendo me convencer de que só dentro da igreja encontro salvação.
Nem discuti pois quem precisa de salvação externa não se responsabiliza por
seus próprios atos. Eu preciso me salvar de mim mesma, dos meus deslizes e
mazelas. Jesus não me salvou, pelo meu entendimento, ele me deu exemplos de
vida espiritual.
Sou
religiosa, nasci assim, penso eu. Lembro de mim pequena rezando com
minha mãe que era uma carola católica. Mas a ideia que eu tinha de Deus era
imprecisa e assustadora. Ele castigava! Era um avô zangado que era acionado
quando eu "mandava mal", o que era frequente, afirmo sem a menor
culpa.
Era
espevitada, como se dizia! Tagarela e voluntariosa. Diz uma amiga, por maldade
pura, que não mudei muito. Mas eu já fui pior, devo dizer em minha defesa.
Perguntava
tudo, Padre Antônio e Padre Jairo tiveram trabalho comigo. Com o tempo mudei de
religião, conheci um Deus mais legal. E aderi a um pensamento um tanto
incômodo: Deus não castiga ninguém, cada um organiza seus próprios castigos.
Era tão lógico que fez com que eu me aproximasse mais Dele, entendi a porção
divina em mim e o poder do livre arbítrio.
Continuo em uma religião, mas esta não me limita, ampliei a
compreensão de espiritualidade até a não religião, tudo bem não ter religião
nenhuma, penso eu. A religião pode excluir, mas a espiritualidade não
exclui nunca. Vivo minha religião com profunda noção de espiritualidade.
A religião não me torna melhor, penso que me impede de ser pior. Simples assim.
A moral
é da dimensão da religião, a ética mais se encaixa na visão da espiritualidade.
Que essa espiritualidade se expanda e alcance os mais
recônditos locais da nossa mente e que possamos ver que é possível para nós.
Que a Espiritualidade se manifeste em nossa prática cotidiana, estimulando o
humano em nós sem queixumes, vitimismos, arrogâncias ou preconceitos. Que o respeito a natureza reverbere em nós para além das palavras, pois também somos natureza e isso está explicito na noção de Espiritualidade que considera o Todo Universal.
Chuva de bênçãos a todos e todas com ou sem religião. Deus em
sua plenitude é Pai de todos, afinal.
Maravilhoso e verdadeiro o seu texto. Parabéns Teresa. Arrasou!
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