domingo, 11 de dezembro de 2016

SOBRE ORGULHO E HUMILDADE

Mais um dia assim, repensando questões que pululam no espaço das gentes viventes. Procuro Guimarães Rosa para deleite da minha amiga Ana Paula: "Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa."
Essa simplicidade, que de simples não tem nada, me serve de inspiração para a reflexão de hoje. O tema me parece pertinente e começou a incomodar  em uma palestra que assisti de uma expositora bem interessante, que vai fundo no tema.
O assunto era: "A parábola do fariseu e do publicano". Gosto de parábolas, elas sempre são misteriosas e descortina-las é um prazer. Essa eu já tinha lido e ouvido outras vezes. Desta vez... entrei na parábola. Sempre me mantive distante dela. Mas agora fez parte do meu cenário individual. A palestrante cavou fundo e eu achei ali minha "ossada" escondida.
O que essa parábola relata? Vou citar aqui para que possam lembrar se estiver engavetada na estante do tempo. Está  em Lucas capitulo 18. Faço o recorte que me interessa:
"...Subiram dois homens ao templo para orar: um fariseu e outro publicano.
O fariseu, posto de pé, orava dentro de si desta forma: - Ó Deus, graças te dou, que não sou como os demais homens, que são ladrões, injustos, adúlteros – nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de tudo quanto ganho.
O publicano, porém, estado a alguma distância, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: - Ó Deus, sê propício a mim, pecador!" Esse é o recorte.
Pois bem, temos aí claramente ilustrado orgulho e humildade em ação explícita. Parece simples a olhos incautos. Mas...
O fariseu preso ao personalismo se auto elogiava. Primeira reflexão. Deus já vê os nossos corações e o fariseu ali não orava para Deus, orava para si. Tentando se convencer das verdades que dizia sobre si mesmo. Na maior parte dos auto elogios se esconde a incerteza do que se afiança, bradando aos quatro ventos se reafirma para si mesmo o conteúdo da afirmação não assumida. Portanto, mais que vaidade se vê insegurança. Aquilo que é visto, percebido e assumido não necessita de alarde, simplesmente se nota.
E quando o orgulho se disfarça em humildade? Ao receber um elogio merecido, com medo de cair nas teias do orgulho, faz-se ares de desmerecimento, trazendo uma "falsa" humildade que esconde vaidade. Eu já usei muito este expediente até entender que elogios são bem vindos e eles atestam seu esforço e merecimento.
Ciência da potência não é orgulho. Orgulho é pensar que é superior e faz tudo melhor que todos. Reconhecer suas capacidades é interessante e bom. Bom para a auto estima.
Outro destaque, o fariseu além de falar de suas qualidades desejadas ele menospreza o publicano. Demonstrando aí o medo implícito do outro. Diminuo o outro me elevando e calando uma voz que não vai me aplaudir.
No caso em questão, o publicano estava tão absorto na auto admoestação que nem via o companheiro pavão ao lado.
Exemplo oposto vale comentário, há situações que por trás da humildade está a auto depreciação. Foco só  no negativo denota também medo, medo de se ver com potência, medo de aparar as arestas e se perceber com poder, medo de não saber o que fazer com esse poder. Se esconder na baixa estima faz uma capa de proteção e te impede de andar pra frente, te imobiliza.
Se auto criticar e apenas ver seus pontos negativos  também é  algo a se refletir carinhosamente. Humildade não é auto depreciação. Humildade é potência de auto reconhecimento pleno. Jesus aceitou de bom grado o título de Mestre, não aceitou o adjetivo de bom, enfatizando a soberania do Pai e levando em conta que ele ainda pretendia ser melhor ainda do que era. O humilde tem consciência das potências, portanto não precisa publicar. Vai sendo no mundo e todos que tem olhos de ver, certamente verão.
E nós? Como nos portamos no mundo? Acreditando que nossas verdades são superiores as verdades dos outros não estamos sendo fariseus? Ou quando bate aquele desânimo e nos sentimos impotentes e desempoderados não estamos sendo publicanos?
Fariseus, publicanos, nós todos...  frágeis seres vivendo nossas  vidas do jeito possível, assim como todos em trânsito no mundo, muitas vezes aos trancos e barrancos. Num momento fariseus em outro  publicanos.
O grande ganho das reflexões é  sair da zona de conforto e da alienação do foco no outro. Sempre somos nós. Concluo sem concluir coisa alguma, trazendo uma fala atribuída a madre Tereza de Calcutá: "afinal sempre é entre você e Deus,  não entre você e os outros..."
Ilustro com o girassol que plantei ao lado da arnica. Duas potências da natureza, simples, humildes, sendo quem são...
Chuva de bênçãos para a humanidade inteira que vive na gangorra chamada vida, "que é bonita,  é bonita e é bonita..."


2 comentários:

  1. Obrigada Teresa!
    A palestra foi ótima e suas reflexões ajudam, dão materiais extras para pensarmos sobre o tema.
    Sim ora fariseus, ora publicanos, assim somos até aprendermos a ser nós mesmos, potências divinas!
    Parabéns pelas beleza das palavras e da foto do Girassol. Bj no coração! ��✨��
    Silvana Lohmann

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