quarta-feira, 9 de julho de 2014

APROVEITAR O BOM E DEIXAR PRA TRÁS

Desatar nós é tarefa hercúlea, por vezes é um nozinho ínfimo e mal apertado, por outras é corda de navio. Mas a aparente fragilidade de um e a aparente fortaleza do outro dependem apenas das circunstancias. Estou desatando um nó de mais de 30 anos, deixando para trás a vida acadêmica e indo ao encontro das outras possibilidades que me chamam, e que estão mais em consonância com o ser que me tornei. Mas vem uma melancolia e uma já saudade dos carinhos e confrontos.
Esta noite vi o tempo correr lentamente, tic tac tic tac, passando em revista meus privilegiados anos de sala de aula, docência, coordenação,  gestão em sentido amplo. Tudo que me fez ser quem sou. Deixando este ciclo no lindo local do passado, vivido entre dores e prazeres que só quem já viveu, pode dimensionar.
Foi neste ambiente que me construi e modelei a argila da minha vocação. Exercitei minha tolerância, meu respeito, minhas virtudes se desenvolveram, meu olhar amoroso e disciplinador se transformou em doação.
Ensinei e aprendi, certamente mais aprendi, na interação constante com a visão do outro. Repensei certezas, trouxe dúvidas, critiquei e recebi criticas que nem sempre gostei, na dinâmica perfeita do vai e volta, de estar junto no mundo.
Tenho olhar de professora, é cacoete profissional, muitas vezes dona da verdade, que com o tempo continuo vendo cair por terra no clima da relativização.
Hoje, quando perguntado no consultório médico qual minha profissão,  respondi quase sem pensar, no automatismo deste tempo todo: - professora, ah! não mais. Bem, serei para sempre, rindo pensei.
Tenho uma imensa gratidão por todos e todas que participaram desta jornada comigo, mesmo na dor de atitudes menos construtivas. Treinando a compreensão e a humildade, trago uma bagagem boa, tarifada pela alfândega das emoções.
Levo cada aluno na mente e no coração, cada parceiro na força e na determinação e cada líder como referência do ser e do não ser. Sinto-me mais fortalecida e preparada para o novo ciclo, a era da carreira solo sem vínculo com a academia a quem tanto servi, e que me deu em troca a experiência que levo para onde for.
Sinto-me honrada por fechar com chave de ouro coordenando os cursos de Gestão de Recursos Humanos e Turismo, tão diferentes, mas que me trouxeram tantas boas reflexões e ministrando aulas para Biomedicina e Nutrição, que grande troca, que possibilidade de alargar a mente e oxigenar os saberes.
Minha eterna gratidão por todos os que passaram por mim nesta jornada, fiz grandes amigos, tive ótimos exemplos de conduta ética e postura transparente e também, é claro, de anti exemplos de valores essenciais, que também nos fazem crescer.

Seja bem vindo o futuro e as novas possibilidades de ação. Bênçãos para todos e todas que também resignificam a vida, e tem forças e fé para deixar o que precisa ficar para trás, no lugar onde deve estar.

sábado, 5 de julho de 2014

RESILIÊNCIA NA CONTRA MÃO

O filme "Clube de Compras Dallas" tirou meu sossego. Assisti a esta história pungente com um anti-herói resiliente, sem caráter e com uma moral própria, eu estava procurando diversão, encontrei inquietação.
Matthew McConaughey para minha surpresa se revela e ganha merecidamente o Oscar de melhor ator  e Jared Leto  o Oscar de ator coadjuvante. Duas atuações magníficas, só isto já vale o filme, ver um trabalho bem realizado é sempre um deleite.
O filme apresenta reflexões profundas e significativas, preconceitos sendo superados pela dor de se ver de opressor a oprimido, ocasionando uma baita mudança de paradigmas em função da mudança de status.
Ele escolhe um caminho quase surreal, mas consegue seu objetivo: não morrer imediatamente conforme diagnóstico.
O trailer pode ser visto em https://www.youtube.com/watch?v=UZaQpgB9ZHg
Essas “viradas de mesa” são possíveis e vemos com bastante frequência quando se escolhe mudar de vida, de hábitos, de estilo de vida, mas o nosso anti-herói  real, bronco, homofóbico e viciado, trilha outro caminho dentro de seu momento evolutivo.
Indico e fico a disposição para discussões sobre os assuntos principais e secundários, é filme de muitas nuances. Até alimentação, um dos meus assuntos preferidos vem à tona. Bom assistir algo incômodo e bem construído, provocante e inquietador.
Bênçãos para todos e todas que abrem a mente para venha o inusitado.


domingo, 25 de maio de 2014

HOJE É DIA DE CHUVA COM HIBISCO

Domingo chuvoso, o sofá me chama acenando com o edredom, eu resisto e vou me envolver com um amigo novo: o “HIBISCO”. Nunca havia me detido na importância e sabor desta bela erva que me lembra de minha infância brincando de comidinha. O hibisco que utilizamos é o mesmo da linda e ornamental flor que está por aqui, por ali. 
Nas minhas pesquisas, encontrei surpresas, é antioxidante e anti-inflamatória, e até ajuda no controle do colesterol, e ainda aumenta a imunidade, entre outras propriedades, coisa boa! Além de ser deliciosa, fiz adesão total.
Um dia no TERRAPIA fizemos um azeite com hibisco que fiquei fascinada. É fácil, basta só macerar o hibisco em um pilão e acrescentar o azeite, deixando repousar. Fica uma maravilha para colocar nas saladas ou onde desejar. Veja o LIVRO VIVO no site e encontre germinação e muitas receitas de dar água na boca com alimentação viva: http://www4.ensp.fiocruz.br/terrapia/
Hoje fiz uma invencionice: Um leite de inhame, capim limão e hibisco, tudo assim “no olho”, um pequeno inhame, um punhado de hibisco que deixei em um copo d’água um tempo antes e capim limão que colhi da minha pequena horta. Bati tudo e coei, sabor exótico, diferente, amei! Gosto de experimentar, de me surpreender com os sabores, odores e texturas.
Juntei este leite vegetal com uma linhaça que eu havia deixado de molho de véspera para o desjejum, deixei com água para ficar uma geleia. Depois de explorar o sabor do leite sozinho, acrescentei meio abacate que ganhei de presente, adoçando com tâmaras ficou um “manjar do céu” como dizia Gilmar, meu amigo, que já nos deixou. Pessoas queridas é o que eu tenho em abundância e que me favorecem com presentinhos como o abacate que degustei hoje.
Bom domingo para todas e todos que transitam na jornada da vida e fica aqui uma bênção de leveza, da Brahma Kumaris para uma meditação: http://www.brahmakumaris.org/brazil


"Para experimentar leveza, considere-se apenas luz.
Sem peso e além da atração da matéria,
a alma pode voar e tocar a liberdade verdadeira.
Assim, torna-se fácil ficar acima dos problemas e manter a mente clara,
perspicaz e livre de escravidão.
A descoberta da sua própria leveza atrai e eleva os outros.
Sua boa companhia removerá
as preocupações da mente e o peso do coração deles"

quinta-feira, 15 de maio de 2014

A FORÇA CONSTRUTORA E DESTRUIDORA DAS PALAVRAS



“As palavras não têm a ver com as sensações. Palavras são pedras duras e as sensações delicadíssimas, fugazes, extremas.”
Este fragmento de Clarice Lispector fez, hoje, um sentido excepcional e tenho sido perturbada nestes últimos tempos por ele. Como sentir na pele a dureza das palavras e aprender a processá-las de forma acolhedora? Sentindo todo sofrimento cabível e realizando um esforço para proceder à compreensão do contexto sem permitir que as sensações “delicadíssimas” e “extremas” te paralisem?
A cada dia nossa dualidade se mostra, e nossa decisão de se construir um ser melhor é colocada em xeque. Mergulhar na dor da dureza das palavras e extrair delas o núcleo sadio, para que as sensações delicadas se tornem mais bem elaboradas, de extremas, se tornem equilibradas é tarefa lamentosa e complexa. Exige de nós recolhimento, reflexão, sofrimento, meditação. Muitas perguntas, muitas indagações...
Vem um lampejo da culpa judaico-cristã, que me persegue, e que o processo terapêutico tem minimizado, encontro aí no núcleo são da minha loucura, a possibilidade da minha fragilidade de comunicação reverberar no ambiente e trazer estas pedras duras e destrutivas, eu criando a possibilidade da destruição com minha inabilidade face ao mundo.
Trago a dor intensa de Clarice para utilizá-la como advogada de minha própria dor e melancolia. “Só os vira-latas me entendem”, quando li, reli e sorri, identificação total. Os vira-latas aceitam o que lhes é ofertado e entendem com a fidelidade dos sentidos que foi dado o possível, o que se podia oferecer. E alegres, abanam o rabo, definitivamente busco ser o vira-latas da Clarice, com meu metafórico rabo do esforço supremo no entendimento, que busco intensamente, sofregamente...
Clarice também me ensina enfaticamente: “calar-se é nascer de novo”, isto eu entendo mais com a razão do que com a ação, tanto que estou aqui na antítese do calar, expressando publicamente minha amargura, me recusando ao “nascer de novo” próprio do silêncio. Busco  o silêncio e a calmaria com lupas de alto nível que encontram barreira na minha miopia de alto grau.
Lanço mão das palavras construtoras de Clarice, para que venham ao meu auxilio e me amparem para extrair o que de bom posso tirar do destrutivo que encontro nas palavras manifestas.
Afundada em meu sofá mais ou menos confortável me vem a inspiração, e mesmo sem inspiração desejo expandir e dizer o que hoje eu sinto. Que bom que “fugazes” aparece nas palavras, e estas sensações irão se dissipar com o vento que tem todo poder de levar para bem longe, deixando apenas as lições no fundo da alma inquieta e sofrida, que se constrói a cada dia com as pedras duras que recolhe no caminho. Tenho fé em meu poder de transmutação, sou camaleoa, mutante e desenfreada.
Para finalizar trago mais uma vez o aporte delicioso dela,  minha musa, a quem chamei todo tempo neste discurso pé de chinelo roto e cansado. “Não se escreve para a literatura, escreve-se para cobrir um vazio, vencer a descontinuidade.” Pronto! Clarice, é isso mesmo! Hoje tagarelo em toques digitados para cobrir o vazio deste momento e para romper a descontinuidade com uma nova descontinuidade e agora calar.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

HOJE É DIA DE MELANCOLIA

Hoje se apossou de mim suave melancolia, um desejo de ficar longe em um lugar que não consigo descrever, um estado que não posso explicar. É uma sensação de contato extremo comigo, com meu eu mais primitivo que deseja plenitude e suavidade,
Imersa nestas impressões me aproximo da estante e vejo Clarice, num livro que ainda não li, uma compilação de tudo que já conheço e que comprei por impulso no aeroporto. A capa é linda e o título imenso e delicado: “ As palavras de Clarice Lispector – nada tem a ver com as sensações. Palavras são pedras duras e as sensações delicadíssimas, fugazes, extremas.”
Pego o livro e sinto sua textura de livro na sua existência plena livresca. Gosto de livros, de cheio de livro, das folhas e das possibilidades de interagir com meu próprio ser, escrevendo nele com a marcação da minha caneta atrevida, ponderando pretensiosamente com Clarice. “Queria escrever frases que me extradissessem, frases soltas: “a lua de madrugada”, “jardins e jardins em sombra”, “doçuras adstringentes do mel”, “cristais que se quebram com musical fragor de desastre”. Ou então usar palavras que me vêm do meu desconhecido: trapilíssima avante sine qua non masioty – aí de nós e você.”
É isto! Hoje estou sem sentido... Lendo pedacinhos dos livros de Clarice, que saboreio com o deleite de uma jovem aprendiz, nem tão jovem, mas muito aprendiz de si mesma na esfera do hoje e do amanhã nos braços dessa CLARA LIZ ...